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O Papel Do Ego

O papel do Ego

Sinto que hoje em dia é muito comum a difamação do termo “Ego”. Toda e qualquer situação que gere sofrimento é automaticamente relacionada diretamente ao Ego. Parece que o problema em última instância é o próprio Ego. O senso comum é de que a palavra ego já vem acompanhada de um certo desdém e preconceito.

Mas vale lembrar que o ponto central da consciência é o Ego. “O Ego é o “recipiente” que contém a nossa vida. O ego cria uma fronteira entre nós e todas as outras coisas, e também media o nosso relacionamento com o mundo. Ele também nos ajuda a nos adaptarmos ao mundo tal como o conhecemos e a agirmos para modificar esse mundo a fim de que ele atenda melhor às nossas necessidades” (Pearson,1994, p.42) Ou seja, esse “eu” a quem você se refere, se identifica, se reconhece por um nome, e que está lendo este artigo agora é um Ego. Tanto é, que ‘“Ego” é um termo técnico cuja origem é a palavra latina que significa “eu”’. (Stein, 2000, p.21)

O Ego é o ponto pelo qual o campo da consciência se faz presente, e é a partir dele que podemos organizar, elaborar e direcionar conteúdos entre o fluxo psíquico – consciente e inconsciente. Afinal de contas “consciência é o que conhecemos e inconsciência é tudo aquilo que ignoramos” (Stein, 2000, p.23).

O ponto a clarificar talvez seja a forma como se desenrola o processo de desenvolvimento do Ego. Pois “um ego forte é aquele que pode obter e movimentar de forma deliberada grandes somas de conteúdo consciente.” (Stein, 2000, p.27). Mas o Ego não nasce pronto, e talvez, biologicamente, estejamos um pouco longe de nossas expectativas perante como o processo poderia ser. O fato é que, hoje, em nossa fase atual da evolução como Homo Sapiens, o Ego é resistente e subdesenvolvido. E a forma pela qual ele se desenvolve é através de “colisões” com a realidade. “Por outras palavras, conflito, dificuldades, angústia, pena, sofrimento.” (Stein, 2000, p.34)

No início de nossas vidas, o Ego não está formado, e chegamos a esse mundo completamente frágeis e indefesos. Enquanto crescemos, nosso Ego também “cresce”, e como não temos recursos para lidar com a dor, sofremos traumas na pequena infância que nos acompanham pelo resto da vida. Fazendo uma analogia simplória seria como se na própria confecção de um bolo, jogássemos pimenta na massa. É obvio que o resultado final será de um bolo com “toques” de pimenta. E como resolver isso? Jogar o bolo fora e fazer um novo? Por essa razão é complicado o desenvolvimento e amadurecimento do Ego. Temos que mudar a própria base na qual ele fora moldado. E para tal, temos que acessar estruturas profundas que nos causaram dor. E então o Ego resiste. Mas ele resiste por uma boa causa. Uma de suas funções principais é a proteção. Ele resiste o acesso a tais estruturas com o intuito de nos proteger do sofrimento. Mas paradoxalmente é a própria resistência que causa o sofrimento desnecessário.

A pergunta crucial seria então: como diminuir a resistência do Ego, sendo que, paradoxalmente, é a própria função de proteção, que gera a resistência e faz com que soframos?

Chegamos ao ponto chave. Recurso. “O ego contém a nossa capacidade para dominar e manipular vastas somas de material dentro da consciência. É um poderoso ímã associativo e um agente organizacional. Uma vez que os humanos possuem tal força dentro do centro da consciência, eles estão aptos a integrar e dirigir grandes quantidades de dados.” (Stein, 2000, p. 27). O Ego possui uma função analítica, a qual chamamos de inteligência, que nos diferencia de todos seres vivos da Terra. E a partir dessa qualidade, melhor ainda, virtude humana, podemos diferenciar a dor do sofrimento. Podemos nos diferenciar de padrões meramente instintivos (impulsos) e padrões emocionais (reativos). Pois somos seres que nascemos como Direito Divino do livre-arbítrio. “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. (Gênesis 1:26). Em suma, podemos organizar nossa psique, fazendo conteúdos inconsciente que nos “pegam na curva” em conteúdos conscientes e elaborados, alinhados com padrões que gerem felicidade e não mais sofrimento.

Gabriel Cop Luciano

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